LEIA A BULA: CUIDADOS AO DIRIGIR DEPOIS DE INGERIR MEDICAMENTOS

O Brasil está entre os maiores consumidores de medicamentos do mundo, segundo pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz e, embora não existam números que indiquem as associações dos acidentes de trânsito ao uso de remédios por motoristas, vale o alerta sobre a responsabilidade para preveni-los em situações como esta. Além dos riscos do uso desregrado de medicamentos para a saúde, um analgésico ou antigripal pode prejudicar o desempenho do motorista na direção segura.

De acordo com o médico do Instituto de Psiquiatria da USP, David de Barros, cada medicamento vai alterar algo no organismo. Remédios mais comuns para combater gripes e resfriados podem causar sonolência. É papel do médico que vai receitar avisar dos efeitos colaterais.

Mas há remédios que podem mudar a rotina de quem os consome. O uso de antidepressivos, por exemplo, pode comprometer os reflexos e a coordenação do motorista. E um acidente pode ser inevitável.

Dirceu Rodrigues Alves Júnior, diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), alerta que o número de pacientes atendidos por médicos diariamente diminuiu o tempo das consultas, o que compromete a transmissão das orientações. “O médico acaba orientando o paciente somente quanto à posologia do medicamento, como ele deve ser usado e por quanto tempo. Informações como reações adversas ou esperadas e possíveis restrições passam sem ser pontuadas, restando ao paciente buscar a informação na bula mesmo”, lamenta Alves Junior em entrevista para a Perkons.

Mesmo se a bula apresentar as informações, Alves explica que alguns remédios podem não restringir a direção do veículo, mas podem alterar os reflexos e a rapidez do raciocínio, necessários para conduzir seguramente. “Muitas vezes uma simples dipirona em um organismo sensível a este componente pode causar problemas de concentração e moleza no corpo. É preciso que seja feito um acompanhamento muito próximo do médico e que o próprio paciente analise sua situação antes de pegar um carro e dirigir”, complementa.

Na caixa
A Abramet propôs em 2010 a criação de lei que obrigaria as indústrias farmacêuticas a inserir na caixa do medicamento o símbolo de proibido dirigir. No entanto, a proposta nunca saiu do papel.

Outra proposta da Abramet é que o Brasil tenha um banco de dados com informações atualizadas sobre as causas de acidentes de trânsito. “Somente com dados consistentes é que poderemos desenvolver projetos mais focados na prevenção de acidentes de trânsito resultantes de uso de medicamentos. Temos estatísticas muito desatualizadas, um dos últimos dados é de 2005, em que verificamos mais de 35 mil mortes por acidentes de trânsito no país, os números atuais devem ser ainda maiores e destes não fazemos ideia de quantos são os causados por uso de remédios”, preocupa-se.

Legislação
O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) não tem regras específicas sobre o uso de medicamentos e a direção de veículos. Os remédios são enquadrados como substâncias psicoativas e são proibidos como o álcool.

“O conceito que o CTB traz é absolutamente amplo e é necessário estabelecer quais são efetivamente as substâncias proibidas e qual a forma adequada de sua constatação quando houver uma abordagem policial dos condutores sob suspeita. Este aspecto precisa melhorar”, ressalta Julyver Modesto, comentarista sobre direito de trânsito no site CTB Digital. O artigo 165 do CTB, alterado em 2008, diz ser infração de trânsito a direção sob efeito das substâncias psicoativas. “Mas ainda é preciso que se estabeleça a forma de fiscalização e especialmente a constatação na abordagem policial”, diz Modesto.

by Redação , 2 de fevereiro de 2016

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